Onde estávamos e aonde vamos?

A partir da segunda metade do século XIX até o final da primeira metade do século XX, os progressos alcançados pela ciência em função do desenvolvimento das novas tecnologias, colocadas em prática, ocasionaram uma metamorfose que moldou o perfil da sociedade moderna durante a segunda fase da Era Industrial. Com a máquina a vapor dando lugar ao motor elétrico, ao motor diesel e ao motor a gasolina.

Desde a segunda metade do século XX, até hoje, o ser humano obteve diversos avanços em áreas como a tecnologia da informação, a exploração espacial, a medicina aplicada, o transporte público e as economias de escala na produção de bens de consumo. Todas essas áreas se entrelaçaram, moldando um novo perfil da sociedade desenvolvida. Porém, essa sociedade ficou extremamente carente do mais importante bem a ser reconquistado: a sustentabilidade do meio ambiente do qual dependemos para sobreviver.

Ao longo destas últimas décadas, a atmosfera terrestre vem sofrendo uma série de agressões  que se tornam preocupantes em função dos valores acumulados de poluentes primários e secundários[i]. O solo, a água e o ar estão sendo prejudicados diariamente, atingindo e ameaçando a sobrevivência de todos os seres vivos. As soluções para esse problema precisam ser avaliadas com cautela e executadas com objetividade. Esses poluentes são provenientes tanto de fontes fixas de fácil identificação (de origem industrial, de erupções vulcânicas, de depósitos de lixo, de certos tipos de usinas termoelétricas, de incineradores e etc.) quanto de fontes móveis, com destaque para os veículos automotores, os aviões, as embarcações marítimas, entre outros.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entre os poluentes que compõem os gases de efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2) e o monóxido de carbono (CO) sobressaem-se. Entre os principais causadores dos gases de efeito estufa, destacam-se os problemas relacionados com os limites de partículas adotados para reduzir as emissões desses dois gases.

Infelizmente, a humanidade chegou a um ponto limite onde, em prol dos benefícios de curto prazo, estamos correndo o risco de asfixiar indiretamente o nosso próprio planeta. Em algumas mega cidades, corremos o risco de intoxicação de longo prazo ao respirarmos um ar com uma concentração de dióxido de carbono (CO2) que em várias cidades, já está acima da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde. Com o aumento excessivo destas emissões de CO2 também, corremos o risco de aumentar o número de desastres ambientais devido às conseqüências colaterais dos gases de efeito estufa. Mas, o desenvolvimento sustentável, por si só, é um assunto de vasta abrangência que envolve diversos ramos tanto das ciências exatas quanto das ciências sociais e econômicas, sobre o qual existem diversos trabalhos já publicados.

Existem hoje cerca de 6,5 bilhões de habitantes no mundo. E cada um desses indivíduos é responsável por um consumo médio de fontes de energia que representa uma cadeia muito delicada entre o setor primário, o secundário e o terciário além de toda uma rede logística que existe por trás do transporte e da criação de bens de consumo.É praticamente impossível abdicarmos do conforto obtido pela iluminação, pelo controle térmico nas nossas casas, pelos meios de transporte, pela fartura de alimentos, pelos meios de comunicação etc. Cada um de nós, em função das conquistas herdadas e dos novos hábitos de consumo a elas condicionados, acaba se transformando involuntariamente em um pequeno predador. Neste sentido, dentre as inúmeras frentes e esforços em busca de soluções, iremos compartilhar com você as mais cabíveis e separá-las dos “milagres impossíveis”. [ii].

Dentro do campo de adaptação os meios de transporte merecem uma revisão especial porque eles representam a maior fatia do consumo de combustíveis de origem fóssil na matriz energética mundial. Dentro desta matriz de consumo, a utilização do automóvel representa uma parcela grande da emissão descontrolada de gases de efeito estufa. Devido a este fato, a adaptação do automóvel deve receber prioridade por ele tratar de um meio de transporte pessoal passível de um processo de reestruturação de sua utilização. Esta lógica será mostrada no capítulo 3.4 depois de descrevermos a dinâmica do consumo mundial dos veículos e a matriz energética mundial.

Tanto o uso dos carros quanto o uso do petróleo de forma estratégica, continuarão sendo muito importante para o desenvolvimento das sociedades modernas. O argumento que iremos desenvolver ao longo deste livro representa uma gama de sugestões pertinentes a pequenas mudanças aplicadas de forma construtiva no relacionamento entre o ser humano e o seu carro.

É por isso que o objetivo deste livro é apresentar o que está sendo proposto nos níveis macro e micro para mitigação e adaptação do impacto ambiental dos veículos de transporte em especial dos carros de passeio.



[ii] FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. Global Forest Resources Assessment 2005,15 key findings. Rome (2005).