Introdução

agosto 13, 2010
Onde estávamos e aonde vamos?

A partir da segunda metade do século XIX até o final da primeira metade do século XX, os progressos alcançados pela ciência em função do desenvolvimento das novas tecnologias, colocadas em prática, ocasionaram uma metamorfose que moldou o perfil da sociedade moderna durante a segunda fase da Era Industrial. Com a máquina a vapor dando lugar ao motor elétrico, ao motor diesel e ao motor a gasolina.

Desde a segunda metade do século XX, até hoje, o ser humano obteve diversos avanços em áreas como a tecnologia da informação, a exploração espacial, a medicina aplicada, o transporte público e as economias de escala na produção de bens de consumo. Todas essas áreas se entrelaçaram, moldando um novo perfil da sociedade desenvolvida. Porém, essa sociedade ficou extremamente carente do mais importante bem a ser reconquistado: a sustentabilidade do meio ambiente do qual dependemos para sobreviver.

Ao longo destas últimas décadas, a atmosfera terrestre vem sofrendo uma série de agressões  que se tornam preocupantes em função dos valores acumulados de poluentes primários e secundários[i]. O solo, a água e o ar estão sendo prejudicados diariamente, atingindo e ameaçando a sobrevivência de todos os seres vivos. As soluções para esse problema precisam ser avaliadas com cautela e executadas com objetividade. Esses poluentes são provenientes tanto de fontes fixas de fácil identificação (de origem industrial, de erupções vulcânicas, de depósitos de lixo, de certos tipos de usinas termoelétricas, de incineradores e etc.) quanto de fontes móveis, com destaque para os veículos automotores, os aviões, as embarcações marítimas, entre outros.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entre os poluentes que compõem os gases de efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2) e o monóxido de carbono (CO) sobressaem-se. Entre os principais causadores dos gases de efeito estufa, destacam-se os problemas relacionados com os limites de partículas adotados para reduzir as emissões desses dois gases.

Infelizmente, a humanidade chegou a um ponto limite onde, em prol dos benefícios de curto prazo, estamos correndo o risco de asfixiar indiretamente o nosso próprio planeta. Em algumas mega cidades, corremos o risco de intoxicação de longo prazo ao respirarmos um ar com uma concentração de dióxido de carbono (CO2) que em várias cidades, já está acima da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde. Com o aumento excessivo destas emissões de CO2 também, corremos o risco de aumentar o número de desastres ambientais devido às conseqüências colaterais dos gases de efeito estufa. Mas, o desenvolvimento sustentável, por si só, é um assunto de vasta abrangência que envolve diversos ramos tanto das ciências exatas quanto das ciências sociais e econômicas, sobre o qual existem diversos trabalhos já publicados.

Existem hoje cerca de 6,5 bilhões de habitantes no mundo. E cada um desses indivíduos é responsável por um consumo médio de fontes de energia que representa uma cadeia muito delicada entre o setor primário, o secundário e o terciário além de toda uma rede logística que existe por trás do transporte e da criação de bens de consumo.É praticamente impossível abdicarmos do conforto obtido pela iluminação, pelo controle térmico nas nossas casas, pelos meios de transporte, pela fartura de alimentos, pelos meios de comunicação etc. Cada um de nós, em função das conquistas herdadas e dos novos hábitos de consumo a elas condicionados, acaba se transformando involuntariamente em um pequeno predador. Neste sentido, dentre as inúmeras frentes e esforços em busca de soluções, iremos compartilhar com você as mais cabíveis e separá-las dos “milagres impossíveis”. [ii].

Dentro do campo de adaptação os meios de transporte merecem uma revisão especial porque eles representam a maior fatia do consumo de combustíveis de origem fóssil na matriz energética mundial. Dentro desta matriz de consumo, a utilização do automóvel representa uma parcela grande da emissão descontrolada de gases de efeito estufa. Devido a este fato, a adaptação do automóvel deve receber prioridade por ele tratar de um meio de transporte pessoal passível de um processo de reestruturação de sua utilização. Esta lógica será mostrada no capítulo 3.4 depois de descrevermos a dinâmica do consumo mundial dos veículos e a matriz energética mundial.

Tanto o uso dos carros quanto o uso do petróleo de forma estratégica, continuarão sendo muito importante para o desenvolvimento das sociedades modernas. O argumento que iremos desenvolver ao longo deste livro representa uma gama de sugestões pertinentes a pequenas mudanças aplicadas de forma construtiva no relacionamento entre o ser humano e o seu carro.

É por isso que o objetivo deste livro é apresentar o que está sendo proposto nos níveis macro e micro para mitigação e adaptação do impacto ambiental dos veículos de transporte em especial dos carros de passeio.



[ii] FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. Global Forest Resources Assessment 2005,15 key findings. Rome (2005).

 

Porque o carro se tornou importante na solução do problema ambiental?

agosto 13, 2010

Um dos princípios básicos de economia é que para toda oferta deve sempre existir uma demanda... 

Porém, um mercado é considerado bem equilibrado, quando a oferta e a demanda se complementam de forma saudável. Atualmente, o consumo mundial dos combustíveis de origem fóssil provenientes do petróleo se encontra em 85,751.685 Barris Por Dia[i]. Este consumo cresceu exponencialmente a uma velocidade de demanda que não foi equilibrada por sua oferta. O resultado foi o aumento do custo dos derivados de petróleo e a necessidade de aumentar sua extração para suprir principalmente a demanda dos Estados Unidos e da China. Essas necessidades estão sendo supridas via exploração em locais de difícil acesso e/ou por meio de acordos com países de regimes instáveis onde a extração do petróleo em diversos casos criou síndromes de Dutch Disease[1] e tornou-se um incentivo negativo.

Nos últimos 150 anos, esta demanda também gerou disputas, conflitos e guerras descritas de forma brilhante no livro The Prize, de Daniel Yergin e no livro Escaping The Resourse Curse de Joseph Stiglitz, Jeffery Sachs e Humphreys. O livre acesso a fontes de energia é um ponto crucial para que qualquer país consiga obter um crescimento econômico sustentável. Tal interdependência já foi comprovada em diversos estudos e será abordada, com mais detalhes, ao longo deste livro.

Existem três importantes fatores que colaboraram para dificultar esse equilíbrio. O primeiro é que de acordo com diversos estudos relacionados  à “Reynolds Curve” e à teoria do “Peak Oil” sobre as reservas mundiais de petróleo, com a entrada da China e da Índia no grupo de países industrializados o consumo de petróleo até 2030 irá ultrapassar a oferta mundial (já incluindo as descobertas feitas no Brasil) e o mesmo deve acontecer com o carvão mineral (tabela 2.1. C). O segundo é o agravamento do efeito estufa em função da emissão de gases provenientes da queima, do refino e do descarte do carvão e de outros derivados de petróleo. O terceiro é o surgimento de novas doenças e problemas de saúde na população, como o aumento da incidência de determinados tipos de câncer e de complicações respiratórias e de inúmeros problemas cardíacos entre os habitantes das regiões muito poluídas, bem como do degelo das calotas polares e do conseqüente aumento do nível dos mares. Os sinais de mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes. Podemos observá-los por toda parte tanto nas grandes cidades quanto em florestas e áreas isoladas do planeta.

Para este livro, nos propusemos a pesquisar de forma isenta quais os maiores causadores de poluição atmosférica. Devido à necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e à busca por um ar mais limpo e saudável, iremos descrever as estratégias plausíveis e realistas, com o propósito de apresentar as soluções mais promissoras que estão surgindo para a superação desses problemas.

No quadro atual, o automóvel ocupa uma posição de destaque como um dos maiores poluidores, porque além de queimar largas quantidades de combustível, ele atua como um grande disseminador de gases nocivos (poluentes), de uma forma descentralizada, quando está em movimento e de difícil controle de seus parâmetros. Nos grandes centros urbanos esse problema é ainda maior, devido aos congestionamentos e à relação peso/consumo de combustível por passageiro transportado (que representa uma análise recente).

Na matriz energética mundial os automóveis representam um consumo de energia maior do que o consumo de toda a energia elétrica gerada no planeta como será mostrado em detalhe no capítulo 3. Se levarmos em consideração as opções de combustíveis alternativos direcionadas para os automóveis, e analisarmos os coeficientes de rendimento usando um veículo como base, teremos as seguintes opções:

Opção 1) Os biocombustiveis são uma fonte energética alternativa que representam uma iniciativa importante para redução de emissões de gases poluentes. No curto prazo tem apresentado alguns resultados. Os passivos ambientais decorrentes da sua obtenção, porém, merecem uma atenção especial, pois a indústria de aproveitamento dos resíduos da produção ainda não está suficientemente desenvolvida a exemplo do que ocorre com o Petróleo onde tudo é aproveitado. 

Apresentaremos o racional dessa lógica com mais detalhes no capítulo 2, onde descrevemos as fases do Proálcool no Brasil (parte 2.4.1) e os biocombustiveis de segunda geração. Também descrevemos porque os veículos Flex representam um sucesso comercial, mas detêm um impacto ambiental um pouco delicado no longo prazo.

Opção 2) O carro elétrico tradicional depende de um re-carregamento demorado de uma fonte fornecedora de energia que geralmente é de origem fóssil dependendo da matriz energética do país (parte 4.4.A). Esse carro também usa baterias feitas com materiais altamente tóxicos como o lítio que serão descartadas após algum tempo de uso. Esse tipo de veículo é adequado para transportes específicos, em fábricas, depósitos, aeroportos, campos de golfe, patrulhamento nas praias e etc. Mas, de acordo com os estudos avaliados durante as nossas pesquisas esta opção não é porém, considerada como um substituto de longo prazo aos modelos atuais movidos à gasolina, a álcool, a diesel, ou a gás natural. Por motivos que apresentaremos no capítulo 5.5, onde você irá entender melhor porque o carro puramente elétrico ainda não apresenta condições sustentáveis para a produção e o consumo em larga escala.

Atualmente existem diversos estudos que estão sendo conduzidos para testar novas tecnologias de  substituição ao uso dos combustíveis de origem fóssil em veículos de transporte. Entre os projetos mais promissores estão os carros híbridos a hidrogênio, que já estão em fase experimental na Alemanha, no Japão, nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Esses veículos híbridos merecem um destaque especial devido à promessa de se tornarem um meio de transporte limpo e uma solução plausível para um futuro próximo.

Se todos os automóveis fossem substituídos por veículos não poluentes, deixaríamos de lançar anualmente aproximadamente 2 bilhões de toneladas métricas de CO2 entre outros gases na atmosfera, o que já seria suficiente para cumprir com sobras as metas dos tratados globais de emissão de gases de efeito estufa (GEE) existentes em níveis pré-1990. Esta é uma meta que poderá ser alcançada a tempo de evitar a ocorrência de catástrofes previsíveis. Mais detalhes desses dados são apresentados no capítulo 3 deste livro.

Poderíamos nomear este marco histórico de *A Década da Renovação Azul*, tendo em vista sua relevância (capítulo 4). Esta renovação pode ser definida como uma nova fase de investimentos em pesquisas e tecnologias tanto renováveis quanto limpas e sustentáveis. Por vários motivos, dentre o leque de novas tecnologias, a energia gerada a partir do vetor hidrogênio – utilizado em células combustíveis – é cada vez mais uma opção atraente para abastecer os automóveis. Diversas matérias-primas e fontes de energia, sejam renováveis, nucleares ou fósseis, podem ser utilizadas para produzir o hidrogênio que irá abastecer uma célula combustível (fuel cell). Além disso, tanto o hidrogênio quanto o produto de sua combustão, não poluem e não são tóxicos.

A eficiência energética dos veículos movidos à célula combustível pode ser até duas vezes maior que a dos veículos atuais (parte 4.7). O hidrogênio poderá, assim, ajudar a reduzir os problemas ambientais e sociais, como a poluição do ar e seus riscos à saúde, a mudança climática global e a dependência de hidrocarbonetos não renováveis. Logo em seguida, no sub-capítulo 5.6, apresentamos como o carro híbrido representará um avanço tecnológico por já estar em operação e conseguir mensurar a redução na relação do consumo de combustível por carga transportada.



[1] Dutch Disease e um termo usado para descrever os impactos negativos que a extração de petróleo causou a economia do governo holandês e outros países em desenvolvimento. Mais detalhes no glossário.



[i]  IEA - U.S. Energy Information Administration, 2008 http://tonto.eia.doe.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=5&pid=54&aid=2 .

 

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Vídeo complementar

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 Sugestão de trilha sonora

01 Tibetan Prayer.mp3

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Fotos complementares

fuel cell para uso industrial
Posto de abastecimento de H2 na Alemanha
primeira torre de petroleo

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