Um dos princípios básicos de economia é que para toda oferta deve sempre existir uma demanda... 

Porém, um mercado é considerado bem equilibrado, quando a oferta e a demanda se complementam de forma saudável. Atualmente, o consumo mundial dos combustíveis de origem fóssil provenientes do petróleo se encontra em 85,751.685 Barris Por Dia[i]. Este consumo cresceu exponencialmente a uma velocidade de demanda que não foi equilibrada por sua oferta. O resultado foi o aumento do custo dos derivados de petróleo e a necessidade de aumentar sua extração para suprir principalmente a demanda dos Estados Unidos e da China. Essas necessidades estão sendo supridas via exploração em locais de difícil acesso e/ou por meio de acordos com países de regimes instáveis onde a extração do petróleo em diversos casos criou síndromes de Dutch Disease[1] e tornou-se um incentivo negativo.

Nos últimos 150 anos, esta demanda também gerou disputas, conflitos e guerras descritas de forma brilhante no livro The Prize, de Daniel Yergin e no livro Escaping The Resourse Curse de Joseph Stiglitz, Jeffery Sachs e Humphreys. O livre acesso a fontes de energia é um ponto crucial para que qualquer país consiga obter um crescimento econômico sustentável. Tal interdependência já foi comprovada em diversos estudos e será abordada, com mais detalhes, ao longo deste livro.

Existem três importantes fatores que colaboraram para dificultar esse equilíbrio. O primeiro é que de acordo com diversos estudos relacionados  à “Reynolds Curve” e à teoria do “Peak Oil” sobre as reservas mundiais de petróleo, com a entrada da China e da Índia no grupo de países industrializados o consumo de petróleo até 2030 irá ultrapassar a oferta mundial (já incluindo as descobertas feitas no Brasil) e o mesmo deve acontecer com o carvão mineral (tabela 2.1. C). O segundo é o agravamento do efeito estufa em função da emissão de gases provenientes da queima, do refino e do descarte do carvão e de outros derivados de petróleo. O terceiro é o surgimento de novas doenças e problemas de saúde na população, como o aumento da incidência de determinados tipos de câncer e de complicações respiratórias e de inúmeros problemas cardíacos entre os habitantes das regiões muito poluídas, bem como do degelo das calotas polares e do conseqüente aumento do nível dos mares. Os sinais de mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes. Podemos observá-los por toda parte tanto nas grandes cidades quanto em florestas e áreas isoladas do planeta.

Para este livro, nos propusemos a pesquisar de forma isenta quais os maiores causadores de poluição atmosférica. Devido à necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e à busca por um ar mais limpo e saudável, iremos descrever as estratégias plausíveis e realistas, com o propósito de apresentar as soluções mais promissoras que estão surgindo para a superação desses problemas.

No quadro atual, o automóvel ocupa uma posição de destaque como um dos maiores poluidores, porque além de queimar largas quantidades de combustível, ele atua como um grande disseminador de gases nocivos (poluentes), de uma forma descentralizada, quando está em movimento e de difícil controle de seus parâmetros. Nos grandes centros urbanos esse problema é ainda maior, devido aos congestionamentos e à relação peso/consumo de combustível por passageiro transportado (que representa uma análise recente).

Na matriz energética mundial os automóveis representam um consumo de energia maior do que o consumo de toda a energia elétrica gerada no planeta como será mostrado em detalhe no capítulo 3. Se levarmos em consideração as opções de combustíveis alternativos direcionadas para os automóveis, e analisarmos os coeficientes de rendimento usando um veículo como base, teremos as seguintes opções:

Opção 1) Os biocombustiveis são uma fonte energética alternativa que representam uma iniciativa importante para redução de emissões de gases poluentes. No curto prazo tem apresentado alguns resultados. Os passivos ambientais decorrentes da sua obtenção, porém, merecem uma atenção especial, pois a indústria de aproveitamento dos resíduos da produção ainda não está suficientemente desenvolvida a exemplo do que ocorre com o Petróleo onde tudo é aproveitado. 

Apresentaremos o racional dessa lógica com mais detalhes no capítulo 2, onde descrevemos as fases do Proálcool no Brasil (parte 2.4.1) e os biocombustiveis de segunda geração. Também descrevemos porque os veículos Flex representam um sucesso comercial, mas detêm um impacto ambiental um pouco delicado no longo prazo.

Opção 2) O carro elétrico tradicional depende de um re-carregamento demorado de uma fonte fornecedora de energia que geralmente é de origem fóssil dependendo da matriz energética do país (parte 4.4.A). Esse carro também usa baterias feitas com materiais altamente tóxicos como o lítio que serão descartadas após algum tempo de uso. Esse tipo de veículo é adequado para transportes específicos, em fábricas, depósitos, aeroportos, campos de golfe, patrulhamento nas praias e etc. Mas, de acordo com os estudos avaliados durante as nossas pesquisas esta opção não é porém, considerada como um substituto de longo prazo aos modelos atuais movidos à gasolina, a álcool, a diesel, ou a gás natural. Por motivos que apresentaremos no capítulo 5.5, onde você irá entender melhor porque o carro puramente elétrico ainda não apresenta condições sustentáveis para a produção e o consumo em larga escala.

Atualmente existem diversos estudos que estão sendo conduzidos para testar novas tecnologias de  substituição ao uso dos combustíveis de origem fóssil em veículos de transporte. Entre os projetos mais promissores estão os carros híbridos a hidrogênio, que já estão em fase experimental na Alemanha, no Japão, nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Esses veículos híbridos merecem um destaque especial devido à promessa de se tornarem um meio de transporte limpo e uma solução plausível para um futuro próximo.

Se todos os automóveis fossem substituídos por veículos não poluentes, deixaríamos de lançar anualmente aproximadamente 2 bilhões de toneladas métricas de CO2 entre outros gases na atmosfera, o que já seria suficiente para cumprir com sobras as metas dos tratados globais de emissão de gases de efeito estufa (GEE) existentes em níveis pré-1990. Esta é uma meta que poderá ser alcançada a tempo de evitar a ocorrência de catástrofes previsíveis. Mais detalhes desses dados são apresentados no capítulo 3 deste livro.

Poderíamos nomear este marco histórico de *A Década da Renovação Azul*, tendo em vista sua relevância (capítulo 4). Esta renovação pode ser definida como uma nova fase de investimentos em pesquisas e tecnologias tanto renováveis quanto limpas e sustentáveis. Por vários motivos, dentre o leque de novas tecnologias, a energia gerada a partir do vetor hidrogênio – utilizado em células combustíveis – é cada vez mais uma opção atraente para abastecer os automóveis. Diversas matérias-primas e fontes de energia, sejam renováveis, nucleares ou fósseis, podem ser utilizadas para produzir o hidrogênio que irá abastecer uma célula combustível (fuel cell). Além disso, tanto o hidrogênio quanto o produto de sua combustão, não poluem e não são tóxicos.

A eficiência energética dos veículos movidos à célula combustível pode ser até duas vezes maior que a dos veículos atuais (parte 4.7). O hidrogênio poderá, assim, ajudar a reduzir os problemas ambientais e sociais, como a poluição do ar e seus riscos à saúde, a mudança climática global e a dependência de hidrocarbonetos não renováveis. Logo em seguida, no sub-capítulo 5.6, apresentamos como o carro híbrido representará um avanço tecnológico por já estar em operação e conseguir mensurar a redução na relação do consumo de combustível por carga transportada.



[1] Dutch Disease e um termo usado para descrever os impactos negativos que a extração de petróleo causou a economia do governo holandês e outros países em desenvolvimento. Mais detalhes no glossário.



[i]  IEA - U.S. Energy Information Administration, 2008 http://tonto.eia.doe.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=5&pid=54&aid=2 .