Como foi explicado no livro ‘The Rocket and Reich’, durante a Segunda Guerra Mundial a produção de etanol combustível atingiu o seu pico, como ataques de submarinos alemães ameaçavam o fornecimento de petróleo, tornou-se obrigatória a mistura de até 50% deste na gasolina em 1943[i]. Por outro lado o embargo de petróleo organizado pelas Nações Aliadas também fez com que a Alemanha tivesse acesso restrito ao petróleo[ii]. Como o petróleo era uma das principais fontes de energia da época, a Alemanha acabou desenvolvendo uma das primeiras misturas bem sucedidas de etanol. Tal mistura serviu como uma alternativa de combustão para abastecer foguetes que eram considerados de longa distância para parâmetros da época[iii].

 
Fonte: V2 Rocket - http://www.v2rocket.com/start/makeup/design.html
 

Um dos principais exemplos da utilização do etanol foi visível no primeiro foguete de longo alcance do mundo o V-2 (conhecido como arma de retaliação A4), um míssil balístico. Este míssil foi desenvolvido na Alemanha nazista pelo cientista Werner Von Braun[iv]. O V-2 foi o primeiro artefato fabricado por seres humanos a alcançar vôo espacial sub-orbital e pode ser considerado o progenitor de todos os foguetes balísticos e espaciais modernos (incluindo o Apollo). O seu Propulsor era composto de 3.810 kg  de etanol,75% (feito através da batata) e 25% de água + 4.910 kg de oxigênio líquido. Atingia uma velocidade de até 1.600 metros por segundo com um raio de ação de até 300 km podendo atingir uma altitude de aproximadamente 80km[v].Com o fim da segunda guerra mundial o uso do etanol caiu em relativo esquecimento e este foi usado esporadicamente como uma alternativa para escoar as super-safras de cana de açúcar.


 
 
 Fonte: V2 Rocket - http://www.v2rocket.com/start/makeup/design.html

Com o embargo da OAPEC aos Estados Unidos, seus aliados, Europa Ocidental e Japão em 1973, o ocidente industrial foi paralisado. Mas no momento em que a crise do petróleo enfraqueceu, ocorreu uma nova baixa de preços e o Ocidente voltou ser complacente com a situação do oriente médio. Outros conflitos aconteceram até a eventual invasão do Kuwait pelo Iraque e os sucessíveis conflitos que ainda assolam esta região ressaltam a importância ainda valida da cultura de geopolítica que existe ao redor do petróleo até os dias de hoje.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores a experiência brasileira da utilização do etanol como aditivo à gasolina remonta a 1920. Mesmo com estas experiências demorou quase 11 anos para que o combustível produzido a partir da cana-de-açúcar passasse a ser oficialmente adicionado à gasolina. Naquela época praticamente toda a gasolina consumida no país era importada.

No Brasil o principal incentivo para o desenvolvimento da indústria do Etanol foi a necessidade de desenvolver um plano de independência energética nacional depois das crises dos anos 70. Com o lançamento do Programa Nacional do Álcool – Pro-Álcool em 1975 o Governo acabou criando a devida infra-estrutura necessária para que o setor se tornasse viável e o programa se desdobrou em quatro fases. O objetivo principal deste programa era introduzir no mercado um incentivo ao desenvolvimento de veículos movidos exclusivamente a álcool (hidratado)[viii].

A primeira fase do pro-álcool foi de 1975 a 1979 a segunda fase, de 1979 a 1989 e a terceira fase, de 1989 e 2000. De forma inversa, entretanto, a mistura de álcool anidro à gasolina foi impulsionada por decisão governamental que, em 1993, estabeleceu a mistura obrigatória de 22% de álcool anidro em toda a gasolina distribuída para revenda nos postos. A indústria de Etanol também é associada à geração elevada de emprego no campo, empregando uma parte da população que pode ser considerada como mão de obra barata e não especializada.

Diante da redução dos preços do petróleo no mundo todo, nos anos 90 o governo transferiu para a iniciativa privada as decisões relativas ao planejamento e à execução das atividades de produção e comercialização do setor. Depois de uma contração na segunda metade da década de 1990, ocorreu um salto de produtividade na produção Brasileira de biocombustíveis e desde 2001 vem tendo um aumento  que atingiu cerca de 20 milhões de m3 em 2008. A atual capacidade instalada no Brasil para a produção de bio-diesel é de 638.000 m3.

Apesar de ter tido uma transição gradativa nos últimos 30 anos, o uso do álcool, em substituição à gasolina, promoveu uma economia de mais de um bilhão de barris equivalentes de petróleo, o que corresponde a cerca de 22 meses da produção atual de petróleo no Brasil[ix].

A origem do Etanol como combustível


     
 
Fonte: Carro da Ford movido a etanol (1915)  http://www.alphaholdingsllc.com/EthanolHistory.htm 

Em 1826, Samuel Morey, experimentou uma substância química de combustão interna psicoativa que era chamada de etanol, este foi utilizado em combinação com o ar ambiente, aguarrás e, em seguida, vaporizado como combustível. Ironicamente ou não esta descoberta foi ignorada devido ao sucesso da máquina a vapor. Apesar de já ser reconhecido há décadas, o etanol  recebeu pouca atenção como combustível até 1860, quando Nicholas Otto começou a fazer experiências com motores de combustão interna. Como vimos no capítulo anterior em 1859, o petróleo foi encontrado na Pensilvânia e isto proporcionou uma nova oferta de combustível acessível para os Estados Unidos. Com a descoberta de um pronto fornecimento de petróleo, a popularidade de destilados como o querosene cresceu. Entretanto, antes do petróleo o combustível popular  era uma mistura de álcool e terebentina chamado "canfeno", também conhecido como "queima de líquidos."  Tanto é que em 1896, Henry Ford projetou seu primeiro carro, o "quadricícuclo" para funcionar com etanol puro. Depois, em 1908, ele produziu o famoso Ford Modelo T capaz de funcionar com gasolina, etanol ou uma combinação de ambos. Ford continuou a defender o etanol como combustível, mesmo durante a proibição do uso deste, mas com a gasolina posicionada a um preço mais barato do que o etanol, os derivado de petróleo acabaram prevalecendo[x].
 

[i] William Kovarik (2008). "Ethanol's first century". Radford University.http://www.runet.edu/~wkovarik/papers/International.History.Ethanol.Fuel.html  Retrieved 2008.

[ii] Durante a II Guerra Mundial, os Estados Unidos usaram a Lei Trading with the Enemy criada em 1917 para impor um embargo total sobre seus inimigos declarados.

[iii] Neufeld, Michael J. New York (1995) The Rocket and the Reich: Peenemünde and the Coming of the Ballistic Missile Era. The Free Press.

[iv] Neufeld, Michael J. New York. (2007). Von Braun: Dreamer of Space, Engineer of War. Knopf; ISBN-10: 0307262928

[v] Kennedy, Gregory P. Washington DC. (1983). Vengeance Weapon 2: The V-2 Guided Missile. Smithsonian Institution Press.

[vi] Ayers, Edward L. Gould, Lewis L. Oshinsky, David M. Soderlund, Jean R. (October, 2008) American Passages: A History of the United States. Wadsworth Publishing; 4th edition.

[vii] Roberts, Paul. (April, 2005). The End of Oil: On the Edge of a Perilous New World. Mariner Books. ISBN 0618562117

[viii] Organisation for Economic Co-operation and Development OECD. Transport Research Centre, (Paris 2008). Biofuels: linking support to performance. Roundtable 138. Chapter 4.

[ix] Ministario das Relacoes Exteriores MRE http://www.mre.gov.br/index.php?Itemid=61&id=1795&option=com_content&task=view

[x] Goettemoeller, Jeffrey; Adrian Goettemoeller (Missouri 2007). Sustainable Ethanol: Biofuels, Biorefineries, Cellulosic Biomass, Flex-Fuel Vehicles, and Sustainable Farming for Energy Independence. Praire Oak Publishing, Maryville. pp. 42. ISBN 978-0-9786293-0-4.