Devido aos efeitos da curva de produção, discutidos no começo deste capítulo, podemos observar uma nova tendência para escassez do petróleo (bem finito) e que a falta de tal recurso natural pode afetar não só a geração de energia como conseqüentemente criar, uma crise na matriz energética do mundo globalizado, que depende do petróleo para realizar funções vitais na economia[i]. Esta situação pode ter conseqüências inimagináveis com os meios de transporte sendo afetados devido à falta de energia, e com os setores nas áreas de alimentos, água, saúde, comunicação entre outros, sofrendo drásticas reduções de oferta[ii]. Todos estes riscos são capazes de estabelecer uma crise de proporções gigantescas que conseqüentemente gerariam sérios conflitos devidos aos interesses na obtenção de recursos energéticos naturais cada vez mais escassos.

O ser humano através da sua natureza em superar obstáculos para sobrevivência ao longo dos séculos, tem se apoiado no uso de sua capacidade inventivo-criativa para gerar uma reorganização dos seus recursos mais importantes, que são os recursos naturais. O mesmo paralelo pode ser traçado com a indústria de Biocombustíveis.

Com o passar dos anos diversos desastres e acidentes envolvendo plataformas de petróleo, navios tanque e refinarias causam mudanças na legislação Européia e Norte Americana com o objetivo de coibir a criação de novas refinarias e infra-estrutura de refino próximo aos grandes centros urbanos e áreas de risco. Com o advento das mudanças climáticas tais instalações passam a ser ainda mais expostas a acidentes naturais como os que ocorreram durante o ano de 2004 no golfo do México quando uma serie de furacões interrompeu a cadeia produtiva de extração e refino do petróleo. Justamente por conta destas mudanças que a industria esta passando por uma fase de adaptação e precisa de mecanismos que incentivem as melhorias e reduções dos desperdícios que ocorrem durante a extração e produção deste petróleo.

Um estudo chamado Oil in the Sea, conduzido pelo National Research Council em 1985, foi um dos primeiros a apontar para dados sobre os desastres envolvendo a cadeia de extração do Petróleo[iii]. Gostaríamos de ressaltar que desastres como o da BP no Texas em 2005 e em 2010, acabam saindo muito mais caros para a industria de Petróleo, tanto o governo federal quanto o estadual e a população. Se o mesmos valores financeiros e mesmo nível de energia intelectual for investido em desenvolver novos sistemas de segurança, tecnologias para o transporte e a prevenção de acidentes, os distúrbios e acidentes que causam custos repentinos podem ser prevenidos e a qualidade do serviço prestado pela industria de petróleo também aumentaria. Prevenção e mitigação ambiental custam muito menos do que a remediação de um desastre de larga escala como os desastres nas refinarias do Texas.

Nos Estados Unidos a direção da Agencia Federal de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) ficou tão preocupada com o índice de infrações de segurança em refinarias, que em 2007 começou um grande esforço para a inspeção de segurança e encontrou mais de 1.000 violações de trabalho na indústria[iv]

Mas também existem os desastres que não fazem as manchetes do meios de comunicação. Um bom exemplo acontece cada ano, centenas de milhões de galões de óleo acabam no mar, provindos principalmente a partir de fontes não-acidentais e previsíveis. Todos os anos, o escoamento de óleos rodoviários junto a chuva em uma cidade de 5 milhões de habitantes pode conter tanto petróleo quanto um derramamento de petroleiros de grande porte[v]. O que cria uma outra oportunidade para sistemas de reaproveitamento destes resíduos.

Com base na análise de dados de uma ampla variedade de fontes, existem cinco categorias capazes de adicionar, a cada ano, grandes quantidades de petróleo para as águas da América do Norte. Por exemplo e estas categorias são:

1)    Resíduos = 363 milhões de galões. Grande parte do escoamento de petróleo na terra e resíduos tanto industriais  quanto urbanos acabam nos oceanos. As estimativas mundiais de entrada de petróleo para o mar excedem 1.300.000 toneladas/ano (cerca de 380.000.000 de litros/ano).

2)    Manutenção de rotina = desperdício de 137 milhões de litros. Todos os anos, a limpeza de esgoto e outras operações dos navios liberam milhões de galões de petróleo em águas navegáveis, em milhares de descargas de apenas alguns litros cada.

3)    Queimados pela chaminé = desperdício de 92 milhões de galões. A poluição do ar, principalmente dos automóveis (desregulados) e da indústria, correspondem a centenas de toneladas de hidrocarbonetos  a cada ano[vi].

4)    Vazamentos Naturais = 62 milhões de galões. Alguns tipos de poluição do oceano por petróleo bruto ocorre devido a infiltração natural a partir do fundo do oceano e erosão de rochas sedimentares que liberam petróleo no fundo do mar[vii].

5)    Acidentes e grandes derramamentos = desperdício de 37 milhões de galões. Aproximadamente 5 por cento da poluição por petróleo nos oceanos é devido a acidentes com navios petroleiros importantes, mas um grande derrame pode atrapalhar a vida no mar e em terra por quilômetros. 

A indústria de transportes acaba se tornando uma poluidora semi-invisível. Lançamentos relativos ao transporte de petróleo, portanto, representam cerca de 9 por cento das entradas totais de petróleo por meio de atividades atípicas nas águas da América do Norte este valor ainda é inferior a 22 por cento da média mundial. Mas demonstra como a indústria de transportes precisa investir em novas tecnologias e melhorias para otimizar os seus serviços[viii].

Embora imponente o cálculo dos impactos ecológicos relativos a estes dados são difíceis de interpretar uma vez que estes representam dezenas de milhares de lançamentos individuais cujo efeito combinado sobre o meio ambiente é muito difícil de ser estabelecido de forma precisa. Porém, se calcularmos em dólares, tanto o montante desperdiçado deste recurso natural indispensável quanto o custo de limpeza de rios e baías; veremos que o investimento na segurança e tecnologias para a cadeia produtiva do Petróleo são baratos e extremamente importantes.

2.1.A   Valor total do desperdício financeiro:  

Cada barril de petróleo tem 42 galões americanos (equivalente a 158,98 Litros) assumindo a cotação de $85 dólares/barril
[ix] (marco de 2010) e os desperdícios listados acima, a perda anual é;
 

Manutenção de rotina: 137.000.000L/158,98L = 861.743,62barris x $85/barril = $73.248.207,32

Queimados (chaminé): 92.000.0000 galões/42galões = 21.904.762barris x $85/barril = $1.861.904.762,00

Vazamentos naturais: 62.000.000 galões/42galões = 1476190.476 barris x $85/barril = $125.476.190,50

Total: US$ 2.263.799.370,00 dólares (mais de 2.2 bilhões de dólares por ano) sendo que o desperdício em larga escala vem dos barris queimados. 

Isto demonstra que tanto a industria do petróleo quanto o setor de transportes podem se beneficiar de investimentos em novas tecnologias, bem como novos incentivos nas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D)  para reduzir os desperdícios. Ao longo deste livro iremos voltar a discutir as oportunidades de adaptação para a industria de petróleo e a industria automobilística. 


[i] Financial times, Kate Mackenzie http://blogs.ft.com/energy-source/2010/02/25/a-temporary-reprieve-for-non-opec-oil-peak/

[ii] Rifkin, Jeremy. The Hydrogen Economy. (USA 2002). Penguin Group. p.121-122.

[iii] National Research Council, 1985. Oil in the sea. National Academy Press, Washington, D.C.

[iv] World News  US Refineries Safty Record is Bad. Seth Borenstein http://article.wn.com/view/2010/04/03/Study_US_refineries_safety_record_is_bad/ 

[v] Smithsonian Institution – Ocean Planet, Peril of Oil Polution http://seawifs.gsfc.nasa.gov/OCEAN_PLANET/HTML/peril_oil_pollution.html#SOURCES

[vi] U. S. Coast Guard, 1990d. Update of inputs of petroleum hydrocarbons into the oceans due to marine transportation activities. National Research Council. National Academy Press, Washington, D.C.

[vii] National Research Council, 1985. Oil in the sea. National Academy Press, Washington, D.C.

[viii] Oil in the Sea III: Inputs, Fates, and Effects Washington DC (2003)- Ocean Studies Board (OSB), Marine Board (MB), Transportation Research Board (TRB), Earth and Life Studies (DELS) ISBN-13: 978-0-309-08438-3